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Afinal, o que é Ser Terapeuta?

Atualizado: 30 de dez. de 2018

Pensei numa famosa frase do Jung, conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana..., ou seja, ser terapeuta é se compreender como ser-no-mundo e, a partir disso, compreender o cliente como outro ser-no-mundo.



Existem muitos caminhos psicoterapêuticos, no entanto, não podemos confundir caminhos psicoterapêuticos com opiniões do senso comum, opiniões inclusive que os clientes chegam achando que psicoterapia trata-se de uma conversa. O processo psicoterápico na Gestalt-terapia é uma relação dialógica, como o próprio nome diz, é um diálogo, mas não uma conversa sem sentido, onde colocamos opiniões como fazemos nas nossas conversas do dia-a-dia, nos bares e encontros relacionais, mas sim um diálogo genuíno entre duas pessoas onde a figura do terapeuta precisa agir fazendo eclodir as questões emocionais que porventura estejam fazendo com que o cliente experimente uma vida disfuncional. Nesse diálogo o cliente precisa ser o foco, e toda a nossa fala precisa estar fundamentada nos pressupostos da psicologia, sem deixar de levar em conta os processos orgânicos que alguns clientes trazem. Precisamos ser coerentes com isso, para que sejamos capazes de fazer encaminhamentos psiquiátricos, neurológicos e outros, de uma forma coerente em que possamos entender as questões importantes que o nosso cliente está apresentando.


O Gestalt terapeuta é aquele que enxerga além do outro para que esse outro enxergue além de si próprio. Com isso ele se autoriza a quebrar bloqueios de contato que possam existir e conseguir proporcionar além de um encontro com o mundo, um encontro consigo mesmo.


É preciso olhar para o cliente de uma forma singular, e para que a pessoa comece a construir essa singularidade que muitas vezes vem destroçada, ele precisa parar de tentar atender as demandas do mundo e começar a prestar atenção nos seus sentimentos, sensações, pensamentos e emoções. Algumas pessoas passam a vida tentando se parecer ou se afastar de pessoas que não sejam eles próprios. Essas são situações que podem gerar conflitos e deixam marcas psíquicas, que numa vida, numa existência relacional podem ter influências bem negativas. O cliente precisa estar consciente disso, das suas sensações, das suas demandas para começar a construir saídas e relações mais funcionais com nossa presença, nosso olhar, fechando e conduzindo no autoconhecimento dele próprio.


Ser terapeuta, é acolher nosso cliente, é ouvir, se esforçar para entender o que ele está passando. Estar junto querendo ajudar. É acompanhar o cliente na sua descoberta, na sua criação. Ficar com a pessoa que se apresenta, buscando com ele experimentar novas situações, novas possibilidades. Nosso trabalho é explorar devagar, no tempo e no ritmo do cliente que se apresenta na nossa frente. Olhar para o cliente não como um transtorno, uma ansiedade, uma depressão. Estar com ele pelos caminhos que já percorreu e que as vezes são bastante tenebrosos e assustadores. Saber como é a qualidade de vida emocional do meu cliente. Acompanhá-lo dentro da possibilidade dele e no tempo dele, acolhendo e dando direcionamentos possíveis naquele momento. Somos como um farol alto numa estrada, nosso cliente tem o seu próprio farol, sabe o que é melhor, mas as vezes não consegue enxergar bem esse caminho e como psicoterapeutas estamos ali para iluminar, clarear um pouco mais ou ajustar o farol nessa estrada. Nosso objetivo deve ser dar aos nossos clientes meios para que possam lidar e resolver da melhor forma possível os seus problemas que estejam sendo apresentados naquele momento ou em qualquer outro momento que possam ocorrer. Precisamos fortalecer a habilidade relacional do cliente com o seu processo existencial.


Ser terapeuta na abordagem Gestalt é ser um caçador de potencial. É usar da criatividade para estar com o meu cliente. Segundo Zinker, “A criatividade é um ato de coragem que diz: estou disposto a me arriscar ao ridículo e ao fracasso para experienciar este dia como uma novidade, como algo inédito. A pessoa que ousa criar, romper limites, não apenas participa de um milagre como também percebe que, em seu processo de ser, ela é um milagre”.


Para mim, fazer terapia é como uma orquestra sinfônica. É orquestrar a vida de uma forma leve com a integração do meu cliente de uma forma significativa e eficaz para ele.

Acredito que a formação de psicoterapeuta não deva ser apenas acadêmica por trás de uma faculdade ou de cursos que experimentamos. Precisamos agir a partir dos nossos próprios sentimentos e ser um instrumento na terapia, ou seja, enquanto terapeutas nos envolvermos também na nossa própria formação pessoal. A técnica precisa surgir do contexto que se apresenta na relação, mas não pode ser apenas isso, é preciso em vários momentos nos olhar interiormente para não cairmos na armadilha do julgamento que as vezes se apresenta para nós.


Para ser gestalt-terapeuta, é preciso ter um amor incondicional com o próximo assim como a si mesmo. Precisa ser um verdadeiro artista, já dizia Perls, que a Gestalt-terapia é uma arte, uma arte do bem, da paz e da harmonia que precisam ser buscada dentro de cada um.


Em suma, Ser Terapeuta é existir, pensar, atuar e transformar através de um setting terapêutico a vida de um cliente.


Fatima Moreno


 
 
 

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